O Caráter de Deus: Atributos “Comunicáveis”
1.
A lista de atributos dada aqui na categoria
“comunicáveis” nada tem de incomum, mas compreender a definição de cada
atributo é mais importante do que ser capaz de classificá-los exatamente da
maneira apresentada neste livro.
2.
Este capítulo divide os atributos
“comunicáveis” de Deus em cinco categorias principais, sendo os atributos
relacionados dentro de cada categoria.
a.
Espiritualidade.
i. As
pessoas muitas vezes se perguntam do que Deus é feito.
1.
A resposta das Escrituras é que “Deus é
espírito” (Jo 4.24).
2.
Essa afirmação é feita por Jesus no
contexto de uma discussão com a samaritana ao lado da fonte.
3.
Assim, não
devemos pensar que Deus tem tamanho
ou dimensões, mesmo que infinitas
(ver a discussão sobre a onipresença de Deus no capítulo anterior).
b.
Invisibilidade.
i. Ligado
à espiritualidade de Deus está o fato de que Deus é invisível.
1.
Porém também precisamos falar das formas
visíveis nas quais Deus se manifesta.
2.
A invisibilidade de Deus pode ser definida
assim: dizer que Deus tem como atributo a
invisibilidade é dizer que a essência integral de Deus, todo o seu ser
espiritual, jamais poderá ser vista por nós, embora Deus se revele a nós por
meio de coisas visíveis, criadas.
c.
Conhecimento
(onisciência).
i.
O conhecimento de Deus pode ser definido
assim: Deus conhece plenamente a si mesmo
e todas as coisas reais e possíveis num ato simples e eterno.
1.
A definição dada acima explica a
onisciência com mais detalhes.
2.
Diz primeiro que Deus conhece plenamente a
si mesmo.
d.
Sabedoria.
i.
Dizer
que Deus tem sabedoria significa dizer que ele sempre escolhe as melhores metas
e os melhores meios para alcançar essas metas.
1.
Essa definição vai além da idéia de que
Deus conhece todas as coisas, e especifica que as decisões divinas quanto ao
que fará são sempre sábias, ou seja, sempre trazem os melhores resultados (do
ponto de vista absoluto de Deus), e trazem esses resultados pelos melhores
meios possíveis.
e.
Veracidade
(e fidelidade).
i.
Veracidade
divina implica que ele é o Deus verdadeiro, e que todo o seu conhecimento e
todas as suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo
da verdade.
1.
O termo fidedignidade,
que significa “veracidade” ou “confiabilidade”, é às vezes usado como sinônimo
da veracidade divina.
f.
Bondade.
i. A bondade de Deus implica que ele é o
parâmetro definitivo do que é bom, e que tudo o que Deus é e faz é digno de
aprovação.
1.
Nessa definição, vemos uma situação
semelhante à que encontramos na definição de Deus como o Deus verdadeiro.
2.
Aqui, “bom” pode ser interpretado como
“digno de aprovação”, mas ainda falta responder à seguinte pergunta: aprovação
de quem?
3.
Em certo sentido, podemos dizer que qualquer
coisa que seja verdadeiramente boa deve ser digna da nossa aprovação.
4.
Mas num sentido mais absoluto, não somos
livres para decidir por contra própria o que é digno de aprovação e o que não o
é.
5.
Em última análise, portanto, o ser e os
atos de Deus são perfeitamente dignos da sua própria aprovação.
g.
Amor.
i. Dizer que Deus tem o amor como
atributo é dizer que ele se doa eternamente aos outros.
1.
Essa definição interpreta o amor como uma
doação de si mesmo em benefício dos outros.
2.
Esse atributo de Deus mostra que faz parte
da sua natureza doar-se a fim de distribuir bênçãos ou o bem aos outros.
ii. João
nos diz que “Deus é amor” (1Jo 4.8).
1.
Temos sinais de que esse atributo de Deus
já existia antes da criação entre os membros da Trindade.
2.
Jesus fala ao Pai da “glória que me
conferiste, porque me amaste antes da
fundação do mundo” (Jo 17.24), indicando assim que o Pai já amava e honrava
o Filho desde a eternidade.
3.
E continua até hoje, pois lemos: “O Pai ama
ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos” (Jo 3.35).
h.
Misericórdia,
graça, paciência.
i. A
misericórdia, a paciência e a graça divinas podem ser tidas como três atributos
separados ou como aspectos particulares da bondade de Deus.
1.
As definições dadas aqui apresentam esses
atributos como casos especiais da bondade de Deus quando empregada em benefício
de categorias específicas de pessoas.
a.
A misericórdia
de Deus é a bondade divina para com os angustiados e aflitos.
b.
A graça
de Deus é a bondade divina para com os que só merecem castigo.
c.
A paciência
de Deus é a bondade divina no sustar a punição daqueles que persistem no pecado
por determinado tempo.
i.
Santidade.
i. Dizer que Deus tem como atributo a
santidade é dizer que ele é separado do pecado e dedica-se a buscar a sua
própria honra.
1.
Essa definição contém ao mesmo tempo uma
qualidade relacional (separação de) e uma qualidade moral (a separação é do
pecado ou do mal, e a dedicação é em prol da própria honra ou glória de Deus).
2.
A idéia de santidade, abarcando tanto a
separação do mal quanto a dedicação de Deus à sua própria glória, encontra-se
em várias passagens do Antigo Testamento.
j.
Paz
(ou ordem).
i. Em
1Coríntios 14.33, Paulo diz: “Deus não é de confusão, e sim de paz”.
1.
Embora “paz” e “ordem” não sejam
tradicionalmente classificadas como atributos divinos, Paulo aqui sugere outra
qualidade que poderíamos conceber como atributo distinto de Deus.
2.
Paulo diz que os atos de Deus se
caracterizam pela “paz” e não pela “desordem” (gr. akatastasia, palavra que significa “desordem, confusão,
inquietude”).
k.
Retidão,
justiça.
i. Em
português as palavras retidão e justiça são duas palavras distintas, mas
tanto no Antigo Testamento hebraico quanto no Novo Testamento grego, só há uma
palavra por trás desses dois termos.
1.
(No Antigo Testamento, esses termos
traduzem principalmente as várias formas da palavra tsedek e, no Novo Testamento, as várias formas da palavra dikaios).
l.
Zelo.
i. Tem
o significado de estar alguém profundamente comprometido com a busca da honra
ou do bem-estar de outrem ou de si mesmo.
1.
Diz Paulo aos coríntios: “Zelo por vós com
zelo de Deus” (2Co 11.2).
2.
Aqui o sentido é “empenhado na proteção e
na vigília”.
ii. As
Escrituras apresentam-nos um Deus zeloso, nesse sentido do termo.
1.
Ele contínua e sinceramente busca proteger
a sua própria honra. Ordena que seu povo não se prostre perante ídolos, nem os
sirva, dizendo: “... porque eu sou o Senhor,
teu Deus, Deus zeloso” (Êx 20.5).
m.
Ira.
i. Talvez
nos surpreenda perceber que a Bíblia fala com muita frequência da ira de Deus.
1. Porém,
se Deus ama tudo o que é certo e bom, e tudo o que se conforma ao seu caráter
moral, então não deve admirar que ele odeie tudo o que se opõe ao seu caráter
moral.
2. A
ira de Deus diante do pecado está portanto intimamente associada à santidade e
à justiça de Deus.
3. A
ira de Deus pode ser definida assim: dizer
que a ira é atributo de Deus é dizer que ele odeia intensamente todo o pecado.
n.
Vontade.
i.
A
vontade de Deus é o atributo por meio do qual ele aprova e decide executar todo
ato necessário para a existência e para a atividade de si mesmo e de toda a
criação.
1.
Essa definição indica que a vontade de Deus
tem que ver com a decisão e com a aprovação das coisas que Deus é e faz.
2.
Envolve as escolhas divinas do que fazer e
do que não fazer.
a.
A vontade de Deus em geral.
As Escrituras freqüentemente indicam a vontade de Deus como razão definitiva ou
absoluta para qualquer coisa que acontece. Paulo se refere a Deus como aquele
“que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
b.
Distinções nos aspectos da vontade de
Deus:
i. vontade
necessária e vontade livre. Algumas distinções já traçadas no passado podem-nos
ajudar a compreender diversos aspectos da vontade de Deus. Assim como podemos querer
ou escolher algo com anseio ou relutância, com alegria ou arrependimento, em
segredo ou publicamente, também Deus, na infinita grandeza da sua
personalidade, é capaz de querer coisas diferentes de modos diversos.
ii. Vontade
secreta e vontade revelada. Outra distinção proveitosa aplicada aos diferentes
aspectos da vontade divina é a que se faz entre a vontade secreta e a vontade
revelada de Deus. Mesmo na nossa experiência sabemos que somos capazes de
desejar algumas coisas secretamente, e só mais tarde revelar essa vontade aos
outros. Às vezes contamos aos outros antes que a coisa desejada surja ou
aconteça; noutras vezes revelamos o segredo só quando o acontecimento desejado
já ocorreu.
o.
Liberdade.
i. A liberdade de Deus é o atributo por
meio do qual ele faz o que lhe apraz.
1.
Essa definição implica que nada em toda a
criação pode impedir que Deus execute a sua vontade.
a.
Esse atributo de Deus está portanto
intimamente associado à sua vontade e ao seu poder.
b.
Mas esse aspecto da liberdade concentra-se
no fato de Deus não se ver cerceado por nada que lhe seja exterior e de ser ele
livre para fazer o que desejar.
c.
Não há pessoa ou força que possa ditar a
Deus o que fazer.
p.
Onipotência
(poder, soberania).
i. A onipotência é o atributo de Deus que
lhe permite fazer tudo o que for da sua santa vontade.
1.
A palavra onipotência vem de dois termos latinos, omni, “todo”, e potens, “poderoso”,
significando portanto “todo-poderoso”.
2.
Enquanto a liberdade de Deus se refere ao
fato de não haver constrangimentos exteriores às decisões de Deus, a
onipotência divina refere-se ao seu próprio poder de fazer o que decidir fazer.
q.
Perfeição.
i.
A
perfeição é o atributo divino que permite que Deus possua com excelência
absolutamente todas as qualidades e não careça de nenhum aspecto dessas
qualidades que lhe seja desejável.
1.
É difícil decidir se isso deve ser tido
como atributo isolado ou simplesmente incluído na descrição dos outros. Algumas
passagens dizem que Deus é “perfeito” ou “completo”.
r.
Bem-aventurança.
i. Ser
“bem-aventurado” ou “bendito” é ser feliz num sentido bastante pleno e
magnífico.
1.
Frequentemente as Escrituras falam da
bem-aventurança das pessoas que andam nos caminhos de Deus.
2.
Em 1Timóteo, porém, Paulo denomina a Deus “bendito e único Soberano” (1Tm 6.15) e
fala do “evangelho da glória do Deus bendito”
(1Tm 1.11).
3.
Em ambos os casos a palavra não é eulogêtos
(muitas vezes traduzida como “bendito”), mas makarios (que significa “feliz”).
s.
Beleza.
i. A beleza é o atributo divino por meio
do qual Deus se revela a soma de todas as qualidades desejáveis.
1.
Esse atributo divino está implícito em
vários dos atributos anteriores e é especialmente associado à perfeição de
Deus.
a.
Porém, a perfeição de Deus foi definida de
uma forma que mostra que ele não carece
de nada que lhe seria desejável.
b.
Este atributo, a beleza, se define de uma
maneira positiva, para mostrar que Deus de fato possui todas as qualidades
desejáveis: “perfeição” significa que Deus não carece de nada desejável;
“beleza” significa que Deus tem tudo o que é desejável.
t.
Glória.
i. Num
dos seus sentidos a palavra glória
significa simplesmente “honra” ou “reputação excelente”.
1.
Esse é o significado do termo em Isaías
43.7, em que Deus fala dos seus filhos, “que criei para minha glória”, ou em
Romanos 3.23, que diz que “todos pecaram e carecem da glória de Deus”.
a.
Noutro sentido, a “glória” de Deus
significa a clara luz que circunda a presença de Deus.
b.
Como Deus é espírito, e não energia nem
matéria, essa luz visível não faz parte do ser divino, mas é algo criado.
c.
Podemos defini-la assim: a glória de Deus é o brilho criado que
circunda a revelação do próprio Deus.
REFERENCIA
Teologia Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida
Nova. Parte 2 - A Doutrina de Deus – p. 98 – 359
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